Responsabilidade Civil por Atendimento Médico e Hospitalar: Análise do Caso Concreto

A ação judicial analisada discute a possível responsabilidade civil de um médico, um hospital privado e o município em um caso envolvendo o óbito de um paciente após a retirada e recolocação de uma sonda gástrica. O autor da demanda, filho do falecido, buscava indenização por danos morais e materiais, além de pensionamento vitalício, sob alegação de erros médicos e omissões que teriam culminado no evento fatal.

 

O Caso Concreto

O falecido, interditado por sequelas graves de um acidente de trânsito, era totalmente dependente de cuidados. Após a saída acidental de sua sonda gástrica, sua curadora buscou atendimento médico em uma unidade pública e posteriormente em um hospital privado.

  1. Primeiro Atendimento (Rede Pública):
    • A família levou o paciente a um hospital municipal, onde foi informado que o local não teria condições de recolocar a sonda e que o retorno deveria ser feito na segunda-feira, dia útil subsequente.
  2. Segundo Atendimento (Hospital Privado):
    • Na segunda-feira, o paciente foi atendido por um médico particular que realizou a recolocação da sonda. Alegações posteriores indicaram que o procedimento teria sido realizado de forma inadequada.
  3. Terceiro Atendimento (Hospital Municipal):
    • Após complicações, o paciente foi levado ao hospital municipal novamente, onde, segundo os autos, houve demora no retorno do médico responsável para realizar novo procedimento. A sonda foi recolocada, mas o paciente veio a óbito dois dias depois.

 

Elementos de Prova

  1. Relatórios Médicos e Perícia Judicial:
    • A perícia concluiu que o paciente apresentava condições graves anteriores (traqueostomia, gastrostomia e alto risco de broncoaspiração).
    • Exames indicaram pneumonia e pneumoperitônio (ar na cavidade abdominal), sem relação clara com a recolocação da sonda.
    • A causa oficial do óbito foi registrada como parada cardiorrespiratória decorrente de acidente vascular cerebral (AVC).
  2. Testemunhos e Documentos:
    • A curadora relatou que o atendimento no hospital público foi insuficiente e que o médico particular teria agido de forma negligente e demorado para atender.
    • Não há comprovação de vínculo entre o médico particular e o hospital privado onde o procedimento foi realizado.

 

Análise da Responsabilidade Civil

  1. Do Médico Particular:
    • Alegação: Negligência na recolocação da sonda.
    • Conclusão: A perícia não apontou erro técnico no procedimento. Não foi demonstrado nexo causal entre a recolocação e o óbito.
  2. Do Hospital Privado:
    • Alegação: Responsabilidade pelo local onde ocorreu o procedimento.
    • Conclusão: O médico não possuía vínculo empregatício ou de preposição com o hospital. Não há responsabilidade objetiva pela conduta médica.
  3. Do Município:
    • Alegação: Omissão no atendimento inicial e posterior.
    • Conclusão: Não foi demonstrado que a omissão contribuiu diretamente para o óbito. A perícia apontou que o estado clínico do paciente e suas condições prévias foram determinantes para o desfecho.

 

Decisão Judicial

Com base na análise das provas, o juízo concluiu pela inexistência de nexo causal entre as condutas dos requeridos e o óbito do paciente. Consequentemente:

  • Os pedidos de indenização por danos morais, materiais e pensionamento vitalício foram julgados improcedentes.
  • O autor foi condenado ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, com suspensão da exigibilidade em razão da gratuidade de justiça.

 

Reflexões sobre o Caso

Este caso evidencia os desafios para se comprovar responsabilidade civil em situações envolvendo assistência médica e hospitalar. A análise judicial reforça a importância de:

  1. Provas Técnicas e Documentais: A perícia foi determinante para afastar a relação entre os procedimentos médicos e o óbito.
  2. Esclarecimento do Vínculo entre Partes: A ausência de vínculo entre o médico e o hospital privado foi decisiva para afastar a responsabilidade da instituição.

Limites da Responsabilidade do Estado: A responsabilização do município exige a comprovação de omissão relevante e o nexo causal com o evento danoso.

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